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3 lições que aprendi no mundo do trabalho

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Devemos praticar a consciência sobre o que nos acontece. Pensar nas situações que vivemos e retirar delas lições, ensinamentos, pequenos insights que podemos usar no futuro a nosso proveito.

Tenho pensado muito no aglomerado das minhas experiências profissionais, sobretudo aquelas que envolveram trabalhar para outras pessoas. E penso que aprendi várias coisas, retirando várias lições, de situações que me aconteceram transversalmente. Ou seja, que acabaram por ser familiares com todas as experiências profissionais que tive.

Eis o que aprendi em 8 anos de trabalho para outros.

A tua felicidade não importa

A verdade é uma: o mundo não está formatado para que possamos fazer o que gostamos mas sim para que acabemos por gostar do que fazemos. Inverte-se o processo. Raramente temos o luxo de escolher o que gostamos, porque o mundo não nos deixa.

E isso é visível na cultura empresarial, um pouco por todos os ramos: a nossa felicidade não importa. É rara a vez que nos perguntam se estamos bem, se precisamos de alguma coisa. A cultura é a de procura do erro.

Assim, ficamos formatados a ser um desempenhador de funções e não a ser… alguém. E isto é particularmente importante na forma como se desenham as funções. Temos de nos encaixar em determinado perfil. Faltam líderes no mundo empresarial que olhem para as pessoas e explorem o seu potencial. Pessoas acima de funções e não o contrário, como acontece hoje.

E assim, a nossa felicidade é algo perfeitamente secundário. O trabalho é para fazer. Não estou aqui a advogar que devamos deixar de trabalhar porque nos sentimos em baixo, simplesmente. Estou a lamentar que não exista uma cultura de preocupação vertical, ou seja, de quem lidera para quem é liderado.

As promoções estão ao alcance dos… dóceis

A meritocracia é uma treta. Infelizmente.

É mais uma daquelas utopias que contamos a nós próprios para nos convencermos de que o mundo é justo, quando não é.

Aplicamo-nos, damos tudo de nós por um trabalho que até nem gostamos (O que, segundo Simon Sinek, é sinónimo de stress) para depois vermos as promoções e as oportunidades fugirem para quem é dócil com quem manda. Para quem diz o que deve dizer e não o que sente, na verdade.

Valoriza-se a adaptação do discurso ao contexto acima do alinhamento do discurso com valores próprios. Aliás, para se ter sucesso, de uma forma geral, devemos ncorporar Groucho Marx: este são os meus princípios mas, se não gostarem, tenho outros.

Quem decide corporizar um corpo de valores e viver e trabalhar segundo esses valores é acusado, normalmente, de arrogância. De mania. De se achar superior aos outros. Saindo estas frases de pessoas cuja cultura é a de bajulação para cair no goto de quem lidera. Pessoas essas que, normalmente, em vez de serem chamadas à razão, são promovidas e valorizadas. Algo se inverteu aqui.

És apenas mais um número

E este é o factor mais transversal: somos números.

Até podemos achar, até certa altura, que gostam muito de nós, que nos valorizam. Mas isso existe até batermos o pé pela primeira vez. Ou até nos defendermos pela primeira vez. Tudo começa a ruir e vemos que, afinal, as benesses que recebíamos não eram para nós: eram para a nossa posição.

E que a pessoa que nos substituirá – na hora, como se houvesse uma linha de espera – terá as mesmas benesses. Que também não serão para ela, mas para a posição que ela ocupará. Que um dia foi nossa.

Caminhamos, assim, para a conformidade. Não se quer pensamento crítico nem desvio da norma. Quer-se pessoas dispostas a seguir comandos como se de robots se tratassem. Para não criarem muitas ondas nem chatices.

Enfim, é este um balanço do que fui aprendendo a trabalhar para outras pessoas. Não quero, de maneira nenhuma, generalizar apressadamente, dizendo que “todos os locais de trabalho são assim”. Aliás, sei que não são. Mas também sei que a familiaridade que este texto irá causar em tanta gente é uma prova viva de como a cultura de trabalho que temos actualmente está profundamente errada e que, se não mudar, dentro de alguns anos não teremos pessoas suficientes para trabalhar. Estarão todas fechadas em casa a lidar com as suas depressões e os seus problemas mentais, causados por um mundo que deixou de se importar com os seus habitantes.


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