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Channel: cultura – Aventar
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“Este filho da puta…

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… , ainda há-de andar a pé como eu”.

Por ocasião de um evento social, acabei por participar num grupo de comensais em que, a dada altura, alguém contou o que outrora, em finais dos anos 70, um seu professor da Faculdade lhe havia dito acerca da diferença de mentalidade entre um inglês e um português: um inglês, à porta da fábrica, vê passar o patrão de Jaguar e comenta para o seu colega “Um dia, o meu filho há-de ter um carro destes”. Pela mesma altura, um português, à porta da fábrica e ao ver chegar o patrão num Mercedes, comenta para o colega “Este filho da puta, ainda há-de andar a pé como eu”.

Lembrei-me deste episódio, quando ouvi hoje no fórum da TSF – sob o tema “Mudanças nas regras do trabalho na Função Pública” -, algumas pessoas a criticar as ditas benesses dos trabalhadores da Função Pública em relação aos trabalhadores do sector privado. E a lógica dominante era a tão costumeira lusitana cultura de nivelar por baixo. Ou seja, não ouvi ninguém a defender que as ditas benesses – que cada um enunciava – deveriam ser para todos. Deixando de ser benesses, para passarem a ser conquistas sociais, numa lógica de equidade.

Pelo contrário, a lógica dominante era que as ditas benesses acabassem. Como se tais perdas dessem alguma melhoria nas suas condições de vida, ou alguma satisfação para além de uma espécie de vingança ou de recalcamento vitorioso.

O poder político, seja ele qual for em matéria ideológica, agradece. Pois é mais fácil governar quem quer o mal dos outros, do que quem quer o melhor para si e para os seus.


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