Quantcast
Channel: cultura – Aventar
Viewing all articles
Browse latest Browse all 42

A máquina de fazer vilacondenses (cinco tostões sobre Valter Hugo Mãe)

$
0
0

Rosa Mota referiu-se, na semana que passou, a Rui Rio como “nazizinho”, pela sua acção na CM do Porto.

Entre várias condenações e várias tentativas de escusa, uma das pessoas que veio, imediatamente, a público defender Rosa Mota foi o escritor Valter Hugo Mãe. Escreveu o meu conterrâneo, no Facebook, que a frase da antiga atleta olímpica tinha sido dita num clima de “nervosismo, sem tempo e de forma imediata”, ou qualquer coisa do género.

Como somos conterrâneos e, em Vila do Conde, frequentamos o mesmo espaço cultural (O Pátio), atrevi-me a responder ao virtuoso Valter. Disse-lhe:

“Ainda que tenha sido infeliz, quem viveu no Porto durante a governação de Rio, sabe o que quis dizer Rosa Mota. Mas convenhamos, o Valter apoiou Elisa Ferraz, outra ‘nazizinha’, para a CM de Vila do Conde”.

Ora, como é típico das sociedades abertas, livres e democráticas… Valter Hugo Mãe bloqueou-me. Perante uma opinião alheia, no seu Facebook profissional, onde passa os dias a dar uma de intelectual exportado (mas nada importado), como quem se sente importante até a dormir, o Valter decidiu bloquear alguém com quem se cruza frequentemente, mesmo não me conhecendo, e que tem amigos, colegas e conhecidos em comum consigo. Não rebateu a opinião, não a desmentiu, não argumentou. Fez o mais fácil de se fazer quando a carapuça nos serve: afastou, ostracizou, engoliu.

Valter Hugo Mãe é um dos escritores mais reconhecidos no país. É um talento e é inegável. Mas é presunçoso, petulante e com o complexo de deus. Talvez seja por isso que, na dúvida, se tenha sempre escondido atrás de quem manda na selva, mesmo que, no seu íntimo, se ache ele mesmo um leão. O Valter foi o mandatário para a Cultura da candidatura de Elisa Ferraz à CM de Vila do Conde, nestas últimas eleições autárquicas. Tendo-se auto-proclamado como “crítico” da gestão cultural de Elisa Ferraz, durante os cerca de oito anos em que foi presidente da Câmara, o Valter decidiu pôr as críticas de parte em Setembro do ano passado. É o chamado “põe o chilrear no bolso que vais arranjar poleiro, ó canário”. No entanto, sendo Vila do Conde uma cidade que respira cultura, onde centenas de artistas fazem das tripas coração para levar a arte vilacondense aos munícipes, não me parece que estes precisem da voz manietada, pouco convincente e frouxa de Valter Hugo Mãe, na defesa de que ideal for, mesmo que este tenha toda a legitimidade para se dizer do lado A ou do lado B.

Em Setembro de 2021, o “crítico” aceitou integrar a candidatura da NAU – Nós Avançamos Unidos, representada pela então presidente da CM, a ‘nazizinha’ Elisa Ferraz, como mandatário para a Cultura, afirmando ter aceitado o convite “na tentativa de criar voz para as estruturas culturais” de Vila do Conde. Mas Valter nunca esteve, antes, propriamente interessado em ser a voz (ou criar) da Cultura no município. Nunca o vimos nas diversas mostras culturais. Mas vêmo-lo muitas vezes nas costas dos Reis da Selva, signifique isso o que tiver de significar.

Elisa Ferraz foi a cangalheira da Cultura em Vila do Conde. Durante anos a Cultura em Vila do Conde foi tratada como o parente pobre do município. Nas últimas eleições autárquicas tive oportunidade de, no âmbito da minha posição nas listas do Bloco de Esquerda, ouvir as reclamações de alguns agentes culturais acerca da gestão de Elisa Ferraz. “Totalitarismo”, “arrogância”, “prepotência”, “postura ditatorial”, “senhora de tudo”. Foram alguns dos epítetos que vi serem arremessados a Elisa Ferraz. Nada que fosse novidade, pois para além dos artistas, outros se queixavam: operários, funcionários públicos, pequenos e médios empresários, comerciantes. Todos apontavam o mesmo à, agora, vereadora e antiga presidente. E Valter sabia-o. A Cultura morreu e só durante a campanha eleitoral autárquica serviu para o folclore feito pela NAU. Em Vila do Conde, a sua aceitação da posição de mandatário surpreendeu todos. Mas deixou-nos alerta: de que é feito, afinal, este homem introvertido mas com postura ministerial? De que é feito, ainda não sabemos bem, mas o Valter vai-nos deixando pistas. O crítico de Elisa Ferraz, que no que à Cultura diz respeito, virou mandatário, é o mesmo que, em 2019, perguntava: “Ó António Costa, onde é que está o Governo da Cultura?”. Agora, virou apoiante. É o vê se te viras.

Depois da colagem à rainha-lua de Vila do Conde, decidiu, agora, a colagem ao rei-sol do PS, com Rosa Mota e outros pseudo-intelectuais à mistura. Na tentativa de desculpar (e bem) a frase da ex-atleta, o Valter esqueceu-se de um seu passado recente. Alguém se lembrou e fez-lhe esse reparo. O Valter não gostou, provavelmente porque lhe atingiu o fígado, e decidiu excluir, da rede social, alguém com quem pode dar de caras todos os dias, n’O Pátio do costume. Já ouvi dizer que “quem se mete com o PS, leva!”, mas não sabia que “quem se mete com os pseudo-intelectuais que apoiam o PS, também leva!”.

Sabemos agora.

Fotografia: João Relvas/LUSA


Viewing all articles
Browse latest Browse all 42